Livros de magia

Muitos fãs de quadrinhos odeiam Harry Potter. Eles acreditam que o menino bruxo criado por J. K. Rowling seja uma cópia descarada e infantil de uma das mais interessantes criações de Neil Gaiman: Timothy Hunter.

Hunter surgiu na mini-série em quadrinhos Livros da Magia, em 1991 (publicada aqui pela Editora Abril). No gibi, um garoto absolutamente comum é perseguido por um quarteto de homens encapotados que revelam a ele seu potencial para se tornar o mago mais poderoso de sua época. Tentando mantê-lo no caminho do bem, Mister Io, Dr.Oculto, Vingador Fantasma e John Constantine levam o jovem Tim Hunter a uma viagem pelo passado, presente, futuro e através das dimensões, tentando mostrar a ele um panorama do desconhecido e misterioso mundo da magia.

A partir da bem-sucedida HQ, Timothy Hunter ganhou um título regular como parte do selo Vertigo, da DC Comics. Algumas das primeiras histórias foram publicadas por aqui na extinta revista Vertigo (Editora Abril) e em mini-séries da falecida Metal Pesado. Atualmente, Tim pode ser encontrado em seu novo título Hunter - The Age of Magic, ainda inédito aqui no Brasil.

Seis anos depois de seu surgimento, uma escocesa chamada Joanne Kathleen Rowling lança um livro chamado Harry Potter e a Pedra Filosofal. Como personagem principal, um garoto que descobre seu potencial para a magia quando é convidado a ingressar em uma escola especial para bruxos.

Além das semelhanças óbvias (os dois têm corujas de estimação, usam óculos e franja e são meninos e bruxos), Harry e Tim não têm absolutamente nada em comum. Enquanto as histórias do primeiro são recheadas de uma boa dose de humor e aventura infanto-juvenil, os quadrinhos de Os Livros da Magia são voltados para um público adulto, acostumado com passagens violentas e densas. Para exemplificar, enquanto em Harry Potter são necessários três livros para que o personagem tenha contato direto com a morte, em Livros da Magia só são necessárias algumas páginas para que Tim Hunter veja com seus próprios olhos as torturas da inquisição, a queda de Lúcifer ao inferno, um mago tirando coelhos mortos de sua cartola e outro se dissolvendo em sua frente...

E se tudo isso ainda não convencer os críticos de Potter a aceitar as diferenças entre as séries, talvez a palavra de Neil Gaiman em pessoa seja de alguma ajuda. Durante sua visita ao Brasil, em maio do ano passado, o aclamado criador de Sandman disse que não foi o primeiro, e nem será o último, a escrever sobre crianças e magia. Ele acredita inclusive que J. K. Rowling provavelmente nunca nem sequer leu um exemplar de Os Livros da Magia.

Os livros da magia foi republicado recentemente no Brasil pela Editora Opera Graphica (leia mais aqui).